Em julho, a revista Crusoé lançou o assunto: Flávio Bolsonaro, que além de senador pelo estado do Rio de Janeiro é advogado formado, articulava um plano visando às eleições de novembro na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O objetivo do filho 01 do presidente Jair Bolsonaro seria o de bancar candidaturas nas seccionais de vários estados, a fim de ocupar espaços e abrandar o tom das críticas que a entidade representativa da advocacia tem proferido contra o Governo Federal e o bolsonarismo.
Historicamente, a OAB sempre se posicionou contra os maus feitos dos nossos governantes, independentemente de ideologia política. Foi assim que esteve na linha de frente na defesa do Estado Democrático de Direito na época da ditadura militar, apoiou a luta dos caras pintadas no impeachment de Fernando Collor, deu suporte político às investigações do Mensalão e da Lava Jato, que foram decisivos para o declínio de Lula e do PT, e tem atuado firmemente contra os ataques às instituições democráticas promovidos pelo bolsonarismo.

Mas, para Flávio Bolsonaro, a atuação um tanto extremada do atual presidente da Ordem, Felipe Santa Cruz, seria um bom mote para despertar insatisfeitos e garantir algumas seccionais.
Jornais do quilate do Correio Brasiliense e do Estado de Minas encamparam a história e repercutiram a matéria da Crusoé. Em nenhum momento houve desmentidos por parte dos envolvidos.
Um dos personagens das matérias é o advogado pernambucano Antônio Rueda. Dono de um dos grandes escritórios do estado e até esta semana vice-presidente nacional do agora extinto PSL. Aliado de primeira hora dos Bolsonaro, Rueda teria encampado o projeto de Flávio para a OAB, assumindo a tarefa de criar uma candidatura competitiva para as disputas da seccional Pernambuco.
Rueda escolheu o advogado previdencialista Almir Reis para a tarefa. Jovem, jeitoso, de fala mansa e fácil convencimento e com espaço em veículos de mídia de perfil conservador, Almir abraçou a missão. Viu ali uma oportunidade única de ganhar visibilidade, já que não é exatamente um advogado de grife. Apadrinhado por Rueda e outros grandes advogados apoiadores do bolsonarismo, poderia partir para a briga com a chance de ao menos se fazer relevante.
O problema é que Almir nunca conseguiu disfarçar que encabeça um projeto político-partidário para a OAB-PE. Algo do qual a instituição conseguiu se livrar há pelo menos dez anos. Mesmo aqueles que são críticos à gestão do atual presidente Bruno Baptista consideram que a OAB-PE se mantém independente, sem ligações com grupos políticos locais.
Além de Rueda, Almir se cercou da nata do bolsonarismo no estado: o candidato a prefeito do Recife pelo PSL, no ano passado, Carlos de Andrade Lima, e o presidente do diretório do partido na capital, Raphael Souto, só parar citar alguns.

Como sempre acontece com quem fala muito, Almir comete excessos. Comenta-se que em mais de um momento, em reuniões com advogados, ele haveria se gabado de ter “Recebido recursos de Rueda para gastar na campanha”.
No início deste mês, quando oficializou a candidatura, Almir escalou para a chapa a vereadora de Caruaru, Maria Perpétua Dantas, deixando claro que, para ele e o grupo que representa, a política partidária pode, sim, fazer parte do dia a dia da OAB-PE.
O próprio Almir Reis tem em seu currículo a política partidária como projeto pessoal. Ele foi candidato a vereador nas eleições municiais de 2004, em Itamaracá. Mas, com apenas 114 votos, não conseguiu se eleger.
Enquanto aguarda a inscrição da chapa da situação, que deve ter o presidente da Caixa dos Advogados de Pernambuco (CAAPE), Fernando Ribeiro Alves, como candidato, Almir segue em campanha, realizando eventos suntuosos, disponibilizando microônibus aos militantes para eventos no interior e com uma estrutura de atuação nas redes sociais que em muito lembra o Gabinete do Ódio que suporta o bolsonarismo.
Segue em campanha cada vez mais próximo dos políticos e cada vez mais distante dos advogados que não querem ver a politização dentro da OAB-PE.